terça-feira, 10 de agosto de 2010

Por que eles nos assustam?

Acho que passei a vida sentindo medo dos homens. Talvez tenha sido essa a razão que me fez, criança ainda, liderar uma gangue do colégio que só batia em meninos. Eu chegava a invadir o banheiro masculino, tirar os moleques de lá embaixo de tapa e assim me vingar do roubo de lanches, dos apelidos maldosos e até das tímidas 'declarações de amor' que eles faziam a mim e as outras meninas, que nos faziam morrer de vergonha na frente das professoras.

Mais tarde, eu não dançava nas festinhas, mesmo que me convidassem. Podia cair o mundo, mas eu não desencostava daquela parede! Lembro de ter conhecido minha melhor amiga dançando, porque eu acho que nós duas tínhamos tanto pavor dos meninos que preferíamos dançar sozinhas a ter que enconstar naquela coisa estranha chamada garoto.

Porém, ironicamente, eu vivia apaixonada. Tive mil paixonites de escola e mais mil fora dela. A cada seis meses eu ficava fascinada pelos tipos mais improváveis... o baixinho, o de óculos, o nerd, o que botava apelido em todo mundo, o absolutamente virgem (deve ser até hoje!) e, é claro, o-mais-gato-do-colégio-que-não-sabia-que-eu-existia. Mas nessas paixões todas, o traço em comum era o medo da aproximação. Deus me livre um trem daqueles vir falar comigo! Eu corria, me escondia, batia o telefone na cara... é de se admirar que eu tenha conseguido alguns relacionamentos efetivos na vida, dado o nível da minha covardia.

Mas, por que os homens assustam? Esse comportamento não era só meu e, mesmo adulta, eu e outras mulheres temos dificuldade de encarar um homem com honestidade de sentimentos. Acho que isto acontece porque muitas de nós somos criadas com a noção de que homem é um ser que serve pra uma coisa somente: machucar a gente. Passamos a vida pensando que à menor oportunidade, eles irão nos trair, deixar, decepcionar, roubar nossos sonhos, nosso orgulho e até nossos bens. E às vezes acontece isso mesmo. Mas às vezes, não percebemos que o medo que sentimos deles é o mesmo que eles sentem da gente e, quando eles nos machucam e por exemplo somem, estão tentando lidar de maneira tosca com o medo de se envolver, se apaixonar, sofrer e ser abandonado. A diferença é que eles agem preventivamente, enquanto as mulheres encaram uma experiência inteira antes de desistirem, o que não torna as mulheres melhores ou menos covardes pois, muitas vezes, 'agir como homem' e pular fora antes da maionese desandar é absolutamente a coisa mais inteligente que se pode fazer.

Recentemente eu tenho tentado enxergar os homens de modo mais igual, apesar de reconhecer que existem dferenças insuperáveis entre os gêneros. Mas, desde que comecei a entender - sem quebrar a cabeça nem perder o sono, claro! - o que os motiva, tenho me sentido mais segura de me aproximar e, olha que maravilha, tenho muito menos medo de me machucar. Uma frase até boba que ouvi há muitos anos me serve maravilhosamente agora: só pode te magoar quem você deixa. Não há necessidade de construir uma fortaleza instransponível em volta do coração, mas de selecionar quem vai ou não entrar nele. É possível. Inclusive, é possível manter vários níveis de relacionamento, desde a amizade absolutamente desinteressada até o sexo casual e 'administrar' todo mundo numa boa, sem magoar ninguém. Os homens (pelo menos os mais inteligentes) descobriram como fazer isso e convém aprender deles.

Sei que o 'terreno' dos relacionamentos é irregular, pedregoso e difícil. Caí por ele muitas vezes na vida e ainda tenho as cicatrizes. Mas hoje, pelo menos, eu olho antes de pisar, e ando com confiança e, principalmente, sou honesta, comigo e com ele, seja quem for ele. Dificilmente tropeçarei nos mesmos buracos.