quinta-feira, 25 de junho de 2009

Michael

Sabe como algumas pessoas são lembradas por seu sotaque, outras por suas roupas extravagantes, outras ainda por seu apreço por uísque? Pergunte a qualquer pessoa que me conheceu desde o início da adolescência e você saberá o que chamava atenção em mim, além da minha verborragia, sarcasmo e habilidade com as palavras: era minha imensa admiração por Michael Jackson.

Michael e eu nos "conhecemos" quando eu tinha ainda treze anos. Numa tarde chuvosa de novembro, há quase quinze anos atrás, a extinta TV Manchete apresentou um especial com todos os clipes disponíveis dele, em preparação para os dois shows que ele faria em São Paulo algumas semanas depois. Eu tinha até então muito poucas referências de música pop, e sabia simplesmente que Michael Jackson era o cara "do clipe do lobisomem"; mas, naquela noite, depois de ser submetida a quase duas horas ininterruptas da magia que aquele homem produzia com sua voz e seu corpo, eu fui dormir apaixonada e embevecida: Michael Jackson passou a ser parte da minha história, da minha juventude e, ouso dizer, o árido terreno da adolescência foi para mim bem mais suportável porque ele existiu.

De lá para cá eu me tornei mulher e Michael se tornou aquilo que você acredita que ele era. Não importa, na verdade. Michael era tão superlativo, tão genial e tão maravilhoso que qualquer título ou classificação, qualquer palavra boa ou má, qualquer piada ou elogio que você atribua a ele era simplesmente pouco, muito pouco, diante do que ele representava - e vai continuar representando - para a música e para o mundo. Pense comigo: como defini-lo? Como traduzir em palavras - nada mais que um ajuntamento de letras - uma pessoa, um músico, um artista, que ultrapassava barreiras físicas, morais, étnicas, culturais? Clichês à parte, este pequeno planeta aqui nada mais era para ele do que um palco; e ele o dominou pelo tempo que aqui esteve.

Sim, porque venham tantos Justin Timberlakes quanto vierem, surjam tantos Jonas Brothers e Ushers e Britneys quanto a máquina da mídia conseguir produzir, eles são, coitados, meros coadjuvantes. Não havia música pop mais completa, rica e palatável do que a que era composta, cantada e dançada e por Michael Jackson.

Sem falar da emoção. Quem não sente uma nostalgia infantil ao ouvir Billie Jean ou não exclama "incrível!" ao ver o clipe de Black or White, ou ainda não fica arrepiado ao ouvir os primeiros acordes de Will You Be There, sinceramente, merece ser questionado quanto a sua capacidade de reação. Falta um bom pedaço do coração àquele que repudia a arte de Michael Jackson.

Quanto à personalidade controversa dele, quanto às (nunca provadas) acusações, quanto à sua aparência, eu nada tenho a dizer. Tenho minhas convicções quanto ao caráter dele. Mas, como afirmei antes, não importa. Tanto não importa que, agora à noite, quando conversei com um jornalista de um jornal local, em nenhum momento ele me perguntou o que eu achava do nariz de Michael, de sua pele multicor ou de seu hábito de se fantasiar com máscaras cirúrgicas: ele perguntou o que eu sentia e o que Michael representava para mim.

Eu digo: Michael era como um amigo distante. Geograficamente distante. Sabe quando conhecemos alguém, essa pessoa se torna muito querida e o destino nos afasta e nunca mais tornamos a vê-la? Pois Michael era isso, o amigo querido que infelizmente nunca vi. Sua música me emocionava e alegrava, sua dança me embevecia e suas aparições públicas sempre aguçavam minha curiosidade. Sei muito de sua história pessoal e musical, li e vi muita coisa sobre ele, escrevi sobre ele em várias fases de nossas vidas - minha e dele - tenho uma vasta coleção de discos, revistas, vídeos, acompanhei seus casamentos, o nascimento de seus filhos, seus shows pelo mundo, suas raras entrevistas, sei de cor piadas que ele fazia até sobre si mesmo - ele era extremamente inteligente e tinha grande senso de humor - e o que eu sinto, hoje, no dia de sua morte (palavra pesada que não se deveria aplicar aos mitos), é uma grande saudade. E me aproprio das palavras de outro artista, Renato Russo: saudade que eu sinto de tudo o que eu não vi.

Porque Michael se foi muito antes do que deveria. Muito antes de eu desenvolver a capacidade de compreender o mundo sem ele. Ele tinha ainda que se apresentar a um público ansioso que o aguardava em Londres, lançar mais alguns discos, criar mais algum burburinho na mídia, se aposentar em alguma mansão da Califórnia ou do Barein e aí então...

Mas o coração do homem que reinventou e sustentou a música pop durante cinquenta anos de vida e praticamente quarenta e cinco de carreira estava fraco demais. Talvez porque ele exigisse muito de si mesmo, mas muito provavelmente também porque exigiram muito dele. E não houve qualquer traço de indulgência do mundo em relação a Michael Jackson nos últimos anos. Estranho, porque sabemos ser tão lenientes com pessoas que comprovadamente lesam o próximo (Sarney, só para dar um exemplo atual), mas não houve benefício da dúvida para Michael. O artista que afetou a vida de milhões de pessoas ao redor do mundo com sua música era um completo alienígena para a maioria de nós.

Mas não para mim. Eu sou grata por ele ter existido, emocional e bobo que isso pareça. Para mim, Michael fazia muito sentido, todo o sentido do mundo. E é por isso que me permito algumas lágrimas e um profundo pesar pela morte do meu amigo: o maior artista pop que já existiu.

Vá em paz, MJ. Sentirei muita, muita saudade.

11 comentários:

  1. Primeiro vai um super elogio ao texto... Vc sempre escreveu muito bem, mas acho que a dor te proporcionou uma escolha de colocações e palavras perfeitas, até poéticas!
    Depois... o que dizer? Que de todos, nós duas somos as que mais sabemos o que significa perder esse amigo, essa pessoa que nos acompanhou durante tanto tempo... e digo mais... ele é o maior responsável pela nossa amizade... em sentidos que, se colocados aqui, talvez nao seriam nem compreendidos.
    Atemporal é a palavra que mais define ele... como comentamos ontem, nunca achei que fosse ter que viver num mundo sem Michael Jackson!
    Fora isso, nao tenho muito a dizer a nao ser que eu ainda nao acredito.. bem la no fundo, eu ainda to querendo acreditar que é só mais uma fofoca, só mais uma acusação que uma hora ou outra, será desmentida...
    Dor, muita dor!
    Beijos
    Tayssa

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  2. Só mesmo a beleza do seu texto para tornar o momento menos triste. Estou, ao menos no dia de hoje, intolerante em relação aos comentários sobre a vida pessoal dele. Assim como você, tenho minhas convicções sobre as polêmicas que ele protagonizou. Mas isso realmente não importa. O que importa é que meus bisnetos falarão dele, assim como hoje falo (e escuto!) de Mozart ou de Elvis, mesmo sem tê-los visto.

    Beijo

    Leo.

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  3. Ter criado uma arte tão poderosa (eu ia dizer música, mas como não incluir a magnífica dança que ele produziu?) foi a defesa maior de Michael contra esse mundo. Fisicamente ele acabou destruído, mas me parece óbvio que sua arte o elevou ao patamar de patrimônio de uma humanidade que pode até renegá-lo ou diminuí-lo no presente, condenar suas escolhas ou desprezar suas atitudes, mas que nunca poderá sequer arranhar o produto de seu assombroso talento, porque Michael, felizmente, conseguiu cristalizar o dom que recebeu e se esmerou em desenvolver.

    Em tempo: parabéns pelo belíssimo texto!
    Beijo
    Mateus

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  4. Escrever tão bem e palavras tão significativas, só podia vir de você, filha querida! Não se preocupe nunca em justificar o seu amor por ele ou por sua arte! Pertinho dos sessenta e um, seu pai ainda é um BEATLAMANÍACO...

    Amo muito vc! Parabéns! Paply.

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  5. Errata: BEATLEMANÍACO!

    PAI!

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  6. Cherie, voce sabe que tanto quanto voce estou triste. Mas curiosamente é uma tristeza dividida. Me surpreendi comigo mesmo ! Após ver noticias vindas do hospital que falavam do passamento dele, vi um clipe com aquelas criacoes fantasticas , aquela musica magica e falei pros meus botoes: MORREU NADA !!! OLHA ELE AI!!!!! Não tem como morrer.....
    Sobrinha....sou eu aqui em V. Velha...

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  7. Blim,

    Venho lhe dizendo, insistentemente, que a minha "ficha não caiu". Espero, a qualquer momento, uma chamada extraordinária de uma emissora, se desculpando pelo boato e imputando os tablóides internacionais pelo sensacionalismo. Quando a realidade me acordar, aí sim, terei certeza de que o nosso Michael perdeu-se na sua paixão,porém perde muito mais aquele que perde a paixão. Beijos da Mommy.

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  8. AHHHHHHHHHHHHHH... vc me mata, primeiro por esse post lindo, lindo, digno de um rei e depois pelo comentário feito no meu blog... tô aqui com lágrimas nos olhos... vc é demais e sempre foi... não sei pq ficamos tão distantes, mas meu carinho por vc não mudou em nada amiga... vc é especial pra mim =]
    Obrigada por tudo sempre!!!!
    You are a part of my history!!!!
    Love you!!!!!

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  9. Sabrina!

    Tuas palavras traduziram meu sentimento neste momento tão triste e até “injusto”.
    Ele vai deixar muitas saudades... e é muito difícil acreditar...
    Nos conhecemos por causa dele e ele foi muito importante nas nossas vidas... eu não sei o que dizer... nem o que pensar... dói... isso não podia ter acontecido... não tão cedo!!!

    Beijos!

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  10. Será que um dia vou parar de chorar!!!! Já já vms nos encontrar para um evento da Mary Kay e eu estou lendo depoimentos sobre Michael e visitando seu blog pela primeira vez... O que tenho q dizer? Que daqui, duas semanas, dois meses, dois anos ou quem sabe duas décadas muitas pessoas terão parado de comentar sobre o artista mais completo que ja conheci (aliás o único que me fez ver que a vida não é só pagode e axé) porém, eu que sinto como se uma pessoa muito próxima e querida tivesse partido, jamais o esquecerei! Ele será eternamente o rei do Pop, da composição, da produção, da coreografia, da voz, enfim, de tudo! Ele tentou chamar a atenção de todos para a triste transformação que o nosso mundo tá passando... Ele ajudou como pôde, pessoas que ele nem conhecia!!!! Ele é e será meu maior ídolo e uma das pessoas que mais admiro... Além de tudo isso, como a própria filha disse, ele ainda conseguia ser o melhor pai!!! Não diria que isso são pra poucas pessoas... Isso é para Michael Joseph Jackson! Somente para ele. Que dor em aceitar que minha Lulu não conhecerá seus sucessos, vc estando em vida mas, eu e minha irmã faremos questão de mostrar e ensinar para ela que pessoas como vc existiram... Amarei para sempre! Vou indo que molhei muito o PC... Michael, descanse em paz. Um dia a gente se encontra!

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  11. Obrigado por traduzir os sentimentos deste q se tornou leitor assiduo d seu blog...
    nao perdi somente um AMIGO,mas uma fonte de alegria e ânimo. Mike me ajudou a suportar muitos momentos dolorosos e dificeis...quando partiu, nao consegui chorar, tamanha minha dor ao constatar que ele se foi só, humilhado pela midia e infeliz, apesar dos bons ultimos momentos...nao me conformo!! fico triste em saber q nao o verei novamente feliz, redimido das perseguiçoes e humilhaçoes que lhe impuseram...mas Deus quis assim e tem pra ele um lugar melhor, pq ele que nos deu tudo merece !!! nao consigo escrever mais...o mundo sem mike e sua luz sera mais dificil de suportar...bjos...

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