quarta-feira, 26 de agosto de 2009

O gato

Ok. Anos sem escrever. Eu sei, eu sei!! Assim não há carreira de jornalista que tenha futuro! Mas houve motivos, ora se houve! Eis o primeiro deles:

Ganhei um gato. Não, não foi bem assim, adotei um gato abandonado. Eu amo gatos, e felinos em geral. Uma das maiores frustrações da minha vida é nunca ter visto um tigre de perto. Eu teria um em casa, se isso não implicasse em minha morte eminente e se o condomínio aceitasse tigres (hahaha). No meu escritório, há três grandes quadros: um leão, um leopardo e um tigre branco. Enfim, felinos são tudo de bom. Mas para entender esse gato é preciso que eu conte uma historinha.

Quando eu tinha dez anos, mais ou menos, "criei", escondida da minha mãe (que sempre foi uma "adoradora de cachorros"), uma gata malhada cinzenta que estava prenha; eu todas as noites abria a janela do quarto e ela aparecia, e eu dava comida e brincava com ela até que minha mãe vinha me dar boa noite e eu tinha que tirá-la do quarto...era provavelmente a gata mais bonita que eu já vi e, por causa dos olhos amarelos, eu coloquei o nome de Natasha. Aquela, da novela Vamp. Lembram?
Uma noite, a Natasha sumiu. Acho que foi ter seus bebês e se "esqueceu" de mim. Fiquei chateada, em princípio, mas depois entendi que essa é a natureza dos gatos - e de muitas pessoas, também: elas passam por nossas vidas por um momento, estabelecem uma relação e depois se vão. Eu não gosto de que chamem os gatos de "traiçoeiros", porque eles não o são e, mesmo que fossem, seriam mais parecidos com os humanos em "personalidade" do que os cachorros. Cachorros são fiéis, alegres, em geral bondosos e fazem o que conseguem para agradar quem gostam. Eu não conheço muitas pessoas assim.

Voltando ao presente, minha mãe me ligou semana passada dizendo que uma colega de trabalho dela tinha achado um gatinho preto de meses de idade que miava de fome. Perguntou se eu queria. Claro que sim, eu disse, e a colega da minha mãe o recollheu e levou para uma clínica veterinária, onde ele foi alimentado, limpo e vermifugado. Tudo maravilha. Fiquei super animada e fui buscá-lo já com um nome na cabeça: Michael. Coincidentemente era um gato negro, mas se ele fosse de qualquer cor teria o mesmo nome *** pausa para você que não gosta de MJ pensar na sua piada, e para você, que é inteligente, entender porque não importava a cor do gato para ter esse nome***

Enfim, cheguei lá e foi amor à primeira vista: Michael tinha por volta de 3 meses, patas bem grandes, uma cauda bonita e era extremamente afável. Mesmo sendo de rua, tinha um ótimo temperamento e não arranhou ninguém da clínica, e se deixava acariciar sem problemas. Levei-o para casa já munida de gaiola, arranhador, ração, caixa de areia, etc. Montei todo o "circo" para Michael e peguei dicas com alguns amigos "gatólogos", parecia que ia se estabelecer uma longa e feliz amizade entre eu e meu gatinho.

No caminho pra casa, Michael, sem querer, me deu uma arranhadinha. Entendo, ele estava assustado com a gaiola. Não doeu nem sangrou mas, imediatamente, o local inchou e ficou vermelho feito picada de mosquito. Pensei: que beleza, acho que sou alérgica. Mas, quem me conhece, sabe que minha teimosia e vontade superam qualquer coisa. Deve ser, pensei, falta de costume. Depois isso passa.

Em casa, dei uns espirros (tinha começado a chover e eu achei que poderia estar pegando um resfriado), e senti uma "leve" coceira, tipo em mim TODA, ao lidar com o gato. Mas achei que com o tempo ia passar. De fato, diminuiu com o passar das próximas horas, mas não acabou. Mas o pior ainda estava por vir.
De noite, o bichinho, que vai ver tinha insônia, ou estava acostumado com essa vida boêmia de dormir de dia e gandaiar de noite, "passeou" toda a madrugada, especialmente por minha cabeça. Se dormi três horas, exausta, foi muito. Além do que, desacostumada com uma "presença viva" em minha casa, cada vez que o gato pulava na cama eu acordava e meu coração ameaçava sair pela boca. Cheguei mesmo a gritar: AAAAAAAHHHH, UM GATOOOOO!!! - pra em seguida, emendar em voz baixa: o meuuuuuuu... . Foi patético.

Mas o tiro de misericórdia foi porque Michael ainda não tinha treinamento em "toalete" e, claro, não procurou institivamente a caixa de areia - duas, eu havia comprado! - quando precisou fazer suas "necessidades". Fez lá mesmo no pufe da sala, jurando que aquele assento de couro tinha boas propriedades "enterrativas" (pra quem não sabe, os gatos, bichos que só podem ser virginianos de tão limpos, procuram sempre enterrar suas fezes). Quando fui limpar aquele "serviço", desencadeou-se uma crise de espirros MONSTRA, sendo que espirrei DOZE vezes seguidas, aqueles espirros arrancados do fundo da alma, que chega deixam tonta. Tive que me segurar pra não cair. Em seguida, numa reação alérgica que seria a glória de qualquer indústria de cosméticos, meu rosto MUDOU DE FORMA, inchando e se repuxando, e eu fiquei com a boca aproximadamente do tamanho da boca da Angelina Jolie. Meus olhos lacrimejaram e eu tive um acesso de coceira tão violento que considerei me esfregar no asfalto pra aliviar. Minha glote fechou e minha voz sumiu, e fiquei o resto da noite dando uma de cover da Tina Turner. Very sexy. Conclusão: o gatinho equivalia, ao meu organismo, a ser jogada dentro de uma urtiga gigante.

Cheguei na casa de uma amiga (se eu dormisse perto do gato corria o risco de eu encontrar o verdadeiro Michael - no pós-vida!) naquele estado alérgico máximo. Isso era sábado à noite, pouco mais de 24 horas depois de ter pego o gato pela primeira vez. Certamente, a relação dono-bicho mais curta que já existiu. Domingo passei em casa para alimentá-lo, pensando se deveria usar um traje espacial para me aproximar. Mas o bichinho, tadinho, já estava se apegando: dormiu na minha cama (vou ter que queimar os lençóis, talvez!!!) e veio me cumprimentar todo amoroso, me reconhecendo. Morri de dó, mas era ele lá em casa e eu morando no prédio vizinho, se eu quisesse ficar com ele. Tive que optar e acho que Darwin me daria razão.

Entrei em contato com a veterinária e expliquei minha alergia galopante. Perguntei se ela o receberia de volta, para que outra pessoa o adotasse. Ela aceitou e anteontem lá fui eu de gato e cuia devolvê-lo. Quis chorar, e saí rápido antes que Michael percebesse que eu, sua dona-relâmpago-alérgica, não iria mais voltar. Os gatos sentem, os cachorros também. As relações às vezes vêm por um curto período de tempo, eu disse, mas nunca deixam de ser marcantes, por um motivo ou outro.

E é mais um Michael de que sentirei falta.


2 comentários:

  1. Ai amiga, quase chorei com seu post, tadico do Michael, espero q ele encontre uma familia bem legal, se vc tivesse aqui em Sampa eu pegava ele pra mim, hj tb falei dos meus pequenos no meu post, vai lá ler depois, sou louca por animais, por qq um, até pelo meu marido, kkkkkkkkkkkkkk... estava com saudades dos seus posts... vc sumiu do msn... bjs, te adoroooo!

    ResponderExcluir
  2. Eu fique frustradíssimo com essa história toda, e ainda insistiria que você pegasse um gato e desse banho nele toda semana... mas pelo visto é uma alergia forte. Gatos são os animais mais fofos e companheiros do mundo! Tenho a Gisele há quase um ano (e já tive outros gatos antes), quando chego em casa ela me acompanha toda ronronando, pede carinho, faz aquele drama, brinca comigo, se esconde, tira as roupas do varal, enche a casa de pêlos e a amo cada vez mais. Uma pena... Mas acho que você tem que ver esse lance da alergia, pode ser que outras coisas desencadeiem uma crise assim. Se não morasse numa kit minúscula, pegaria o Michael para mim...
    Trilha sonora para o Michael (gato) pelo Michael (cantor): You are not alone!

    Beijos,
    Raí.

    ResponderExcluir