segunda-feira, 1 de junho de 2009

Crônica triste

Escrevi isso há quatro anos atrás e por acaso achei, no "fundo do baú" do meu HD. Muita coisa não se aplica mais e - meu Deus - como eu chorei nos últimos dois anos!! Parece que alguém "lá em cima" ouviu minhas "reclamações"...mesmo assim, acho que é um texto bonito demais para ficar guardado...

Queria terminar minha vida em choro...e penso que não há nada de errado nisso! Diz-se por aí que, na hora da morte, o maior desejo de qualquer cidadão de bem é fazer uma tremenda reflexão e descobrir-se “realizado”...bobagem! A maior delícia possível no fim dos meus dias seria um pranto tão profundo e sentido, que dele somente a morte me libertaria e me faria descansar.
Antes de ser taxada de mórbida ou depressiva, é importante esclarecer que os momentos mais marcantes da minha vida, pelo menos até hoje, não me fizeram chorar. Ou antes, me fizeram chorar bem menos do que a maioria das pessoas “normais”, nas mesmas condições. A separação dos meus pais, a primeira decepção amorosa, a morte da minha avó, a entrada na faculdade, as dificuldades do primeiro emprego, o nascimento da minha sobrinha...as saudades...todos esses eventos, seguramente muito emocionantes, apesar de sua importância arrancaram de mim não mais que duas colheres-de-chá de um choro vagabundo.
No fim do filme romântico, por exemplo, eu sou aquela que dá um meio-sorriso triste e se levanta de olhos secos, um pouco sem graça de não participar da comoção generalizada. Lembro-me até hoje da morte do Ayrton Senna, eu com 13 anos observando adultos chorarem, penalizada, mas sem derramar uma lágrima sequer.
O fato é que, assim como só começo a me interessar por determinada música ou programa de televisão depois que ninguém mais está achando graça, creio também que tenha um delay gravíssimo de choro, e todos os meus “grandes” prantos parecem que têm se acumulado ao longo dos anos, visto que recentemente tenho tido quase que um sufocamento, tamanha vontade de, literalmente, sentar e chorar. Motivos tenho alguns, é verdade, mas nada tão extraordinário que não pudesse ter feito essa vontade louca aparecer há, digamos, dois anos atrás.
Será que é isso? Aumenta-se a idade e, progressivamente, chora-se menos na vida? E por que será que sinto necessidade do inverso? É estranho, pois tenho convivido nos últimos três meses quase que diariamente com um bebê, e estes choram por manutenção de suas necessidades vitais e, portanto, choram muito. Crescendo, o choro serve a outros propósitos, alívio de tensões e expressão de emoções fortes. Porém, considerando que na vida uma pessoa certamente sente mais fome do que, sei lá, saudades, que lógica é esta que me faz pensar que não estou chorando tanto quanto devo?
Talvez eu esteja fazendo isso. Talvez eu esteja guardando todos os bilhetes, as dedicatórias de livros, as rosas secas, as decepções, as saudades, a sensação de falta de objetivo, os sorrisos da minha sobrinha e as palavras duras para um grande choro definitivo, final. E apesar de não poder prever quando ele poderá acontecer, a simples idéia me reconforta e, até – olha o paradoxo – me faz sorrir.


07/11/2005.

2 comentários:

  1. Adorei o texto e fico "feliz" que vc tenha chorado nos últimos anos. Chorar faz bem!
    Bjos, Lívia

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  2. É mesmo um belíssimo texto. E eu sou seu fã. E eu preciso me lembrar de vir mais aqui.

    Beijo
    Mateus

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