quarta-feira, 15 de julho de 2009

Arma X

Minhas experiências com a arte culinária, obrigatórias desde que comecei a morar sozinha, têm sido entre fascinantes e desastrosas, com certos pendores para a segunda classificação. Quando de minhas panelas de inox não sai algo tão salgado a ponto de fazer inveja ao Mar Morto, até que consigo, com relativa rapidez e facilidade, cozinhar umas coisinhas bem boas. O problema é que, como todo ser humano, não consigo me restringir ao campo dos molhos de tomate com calabresa e dos franguinhos grelhados - eu preciso de aventura - e é aí que mora o perigo.

A odisséia começou no último domingo, quando fiz carinha alegre para uma bandeja de cogumelos que descansava tranqüila na barraca da feirante japonesa de quem minha mãe compra há séculos. Vi que era shitake, um dos meus favoritos e, diante da minha empolgação, minha mãe acabou comprando, sete reais por duzentos gramas de fungos. Já aí eu deveria ter percebido que o que quer que fosse que eu pretendesse com os cogumelos, não iria dar certo.

Em casa, armazenei-os bonitinhamente na geladeira e fiquei pensando na melhor forma de prepará-los (eu, que aprendi a fazer arroz não tem três meses!). Ontem à noite fui olhar a data de validade, temerosa de que fosse de, sei lá, 28 minutos, e eu já tivesse perdido a preciosa iguaria. Ufa, eram 7 dias, o que significava que eu poderia criar uma receita gourmet até o próximo sábado sem correr o risco de parar no hospital. Foi então que vi no rótulo que não eram cogumelos shitake, e sim shimeji. No corre-corre das compras, eu devo ter visto uma bandeja e pego outra. Ora, ora, ora, sem problemas, pensei, vou experimentar shimeji pela primeira vez, feito por mim mesma. Que legal.

No trabalho, pesquisei rapidamente umas receitas e acabei escolhendo macarrão com molho de shimeji. Tenho uma amiga que faz um macarrão com molho de shitake que dizem ser coisa do outro mundo. Não havia razão, então, para que o meu ficasse menos espetacular. Afinal, entre shitake e shimeji a diferença é o sufixo. Tudo coisa de japonês. Uma maravilha deliciosa e sensacional.

A receita do molho era simples: alho, sal, manteiga, limão, shoyo e creme de leite. Comecei refogando o alho, enquanto Tina Turner perguntava O Que O Amor Tem A Ver Com Isso (What's Love Got To Do With It) no meu DVD player.

Alho frito, receitinha ao lado, acrescentei o sal e os cogumelos previamente lavados. Feliz da vida, fui refogando, lá lá lá lá ri lá lá, e cantando. Eis que senão quando, os cogumelos começam a adquirir uma aparência francamente suspeita, murchando e se transfigurando em algo que mais parecia os restos mortais do Freddie Krueger. Até aí tudo bem, que cogumelos são mesmo coisas feias de meu Deus, mas nem por isso menos deliciosas. O problema foi o cheiro. Começou sem mais aquela a subir um cheiro de galinha molhada com borracha no asfalto, uma coisa incompreensível e positivamente anti-culinária. Olhei a receita para ver se eu não deveria ter acrescentado qualquer coisa para amenizar aquilo e percebi...ah, o limão. Todo mundo sabe que o limão é ótimo para eliminar odores desagradáveis e então deveria ser por isso que ele constava na receita. Espremi o limão e fiquei esperando que o cheiro de gambá cozido em galocha se transformasse em cheiro de prato apetitoso que faria o vizinho bonitinho do quarto andar bater na porta se convidando pro jantar. Não aconteceu. Para falar a verdade, o cheiro agora estava um pouco pior, com o limão tendo intensificado o futum maldito, transformando-o num fedor acre e um tanto desesperador. Olhei novamente a receita pensando que eu tivesse esquecido algo, como um vidro de Chanel N° 5, e vi que ainda faltava o shoyo. Quando acrescentei, já meio tonta pelos vapores daquela bomba química, o molho de soja, foi o tiro de misericórdia. O diacho daquela gosma na panela começou a ferver e a sibilar - vivo, sem dúvida - e o cheiro se transformou simplesmente na coisa mais absurdamente insuportável de fedorenta que eu já tive o desprazer de colocar o nariz perto.

Não tem como descrever! Não parecia com nada que eu havia cheirado antes, e ao mesmo tempo me lembrava de todos os cheiros ruins que eu conheci na vida. Vale acrescentar que, de todos os meus sentidos, devo realmente me orgulhar do meu olfato e da minha memória olfativa. Lembro-me perfeitamente do perfume do primeiro hidratante que usei (Monange do coraçãozinho rosa! Ainda fabricam?) e do cheiro do sanduíche de queijo grelhado que meu pai fazia quando eu tinha seis anos de idade. Portanto, se tem uma coisa que entendo, é de cheiros. E aquele era, sem dúvida, o mais nauseante odor que eu já havia sentido! Tinha mesmo um certo cheiro de borracha, mas cozida em ácido, e parecia que eu havia colocado adstringente na panela, com um bocado de bofes de boi ou bode junto. Enfim, cheiro de coisa ruim from hell. Cheiro de autópsia do ET de Varginha.


O pior não foi isso! Tendo desligado o fogo e temerosa que, se acrescentasse o creme de leite, aquele cozido de alien começasse a falar comigo, tampei rapidamente a panela e liguei o exaustor, na tentativa desesperada de mandar aquele cheiro pro corredor, pra casa do síndico, pra casa do C*****, sem sucesso. Abri minhas janelas e lamentei muito não ter um ventilador. Dos grandes, dos de teto. Cheguei à conclusão de que não poderia esperar que aquela gosma esfriasse para jogar fora. Prendi a respiração, peguei o lixinho da pia, coloquei a panela perto e virei. Dei três nós no saco e saí correndo de roupão pro corredor, o vizinho bonitinho que me visse em trajes menores e se danasse. Abri a portinha da lixeira e arremessei o saco, correndo de volta em seguida, com medo da lixeira devolver. Cheguei em casa e o odor de cemitério imperava, o exaustor ligado no máximo, e nada acontecia. Rápido, comecei a grelhar um frango (eu tinha que jantar alguma coisa!), procedimento que em geral faz a casa ficar cheirando a frango três dias. O odor dos cogumelos assassinos sobrepujava o do frango, e nada - eu disse NADA - fazia com que passasse. Tentei abanar, lavar, borrifar com detergente toda superfície que esteve em contato com a gosma repugnante, em vão. A essa altura, considerei despejar meu vidro de Amber Romance da Victorias' Secret inteiro nas panelas, muito melhor ter a cozinha eternamente cheirando a perfume do que àquela desgrama. A cada fungada que eu dava, me arrepiava toda de nojo, como se tivesse cheirado inadvertidamente esgoto a céu aberto. Depois de pelo menos uma hora de ventilação e da utilização de todo produto químico que havia, o fedor começou a se dissipar, mas aí entrou em ação minha privilegiada memória olfativa, e eu comecei a achar que todo e cada um dos meus pertences estava cheirando a shimeji: meu travesseiro, minha camisola, minha escova de dentes, juro que senti o cheiro até em meus CDs! Tentei cheirar as coisas mais deliciosas prá ver se enganava o cérebro, como suco de uva, meus perfumes, amaciante, chocolate em pó...nada. A memória do cheiro nauseabundo estava para sempre registrada em meu cérebro. Nesse exato momento, enquanto escrevo, posso jurar que minhas mãos - já tomei banho e usei meia dúzia de cremes - estão cheirando a cogumelos podres, e penso se isso não vai passar às teclas do computador e conseqüentemente ao texto.

Portanto, caros leitores, se enquanto lerem esse post surgir um cheiro desagradável tipo...o pior cheiro do mundo, por gentileza, queiram me perdoar. Eu jurava, de pés juntos e dedos cruzados, que era shitake!

7 comentários:

  1. kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk

    Eu apanho muito de comida tbm, cara amiga! Estou aqui rasgando de rir com tamanha identificação com a sua descrição de fato. Sabe aquelas coisas "que todo mundo faz, super rápido e fácil e nãotemcomodarerrado!!!" Pois é, eu consigo estragar! hehehehe Bom saber que existe mais gente no mundo como eu! =P Espero que tenha conseguido se livrar do cheiro na sua casinha...
    Beijo!

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  2. kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk
    Ainda bem que nao foi no dia que o Lucas foi la... ou foi??
    Bjus

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  3. Blim,

    Guarde a receita a sete chaves, servirá, posteriormente, como arma química, para dissipar multidões ou tonteá-las. Tenho certeza que o Bin Laden pagará com um bom tufo de barba e a planta de seu esconderijo, para experimentar o "shizonzeia". Bjos. Mommy.

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  4. Eu choro de rir com a minha querida
    Kitty-Bridget-Jones!

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  5. HAHAHAHAHAHA!!!!
    Tô rindo aqui sozinha, amiga do céu o que foi isso??? Rsrsrsrs... ecaaaaaaaaaaaa, eu tb sou péssima na cozinha sabe? Apronto cada uma, affff, já me conformei que não sei mesmo cozinhar rsrsrsrs... ótimo texto!!!!
    Beijocas (bem q percei um futum estranho quando abri seu blog, kkkkkk)

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  6. Dica do dia: quando fizer algo que deixe aquele cheiro na cozinha (e na casa toda), esquente uma frigideira (ou qualquer panela) e jogue vinagre dentro. o cheiro do vinagre cozido não é dos melhores, mas alivia o cheiro ruim que estava.
    Que gororoba foi essa que você fez? quer começar na cozinha: MIOJO, não tem erro, hihihi. Bjs.

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  7. HAHAHAHAHA TO MORRENDO DE RIR CONTIGO AQUI! hahahah
    Vc é muito engraçada sabia?
    Eu também consigo façanhas impressionantes, descobertas de armas atômicas na cozinha, e confesso que terminei o texto com a lembrança de todos os cheiros ruins que senti na vida, mas acho que nao consegui chegar aos pés do seu cogumelo rs
    Sumiu hein?
    Beijinhooos, e da proxima vez, SHITAKE. ;*

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