Eu nunca gostei de gente famosa.
(Como assim? E o fulano de dois posts anteriores?)Não, não é isso. Eu nunca gostei de
encontrar gente famosa.
(Ah, tá. Me engana que eu gosto que você sairia correndo se um desses caras que você curte aparecesse na esquina.)Errr... não. Não é bem assim. É mais a
reação das pessoas não-famosas às pessoas famosas que me incomoda. A gritaria, o
frisson, o descontrole. Morro de vergonha.
Começou cedo. Quando eu tinha sete anos, minha mãe e eu viajamos para a Disney. Não sei porque, mas fomos parar na sala VIP prá esperar o vôo. De repente - isso foi em 1988 - começa um lufa-lufa de gente e câmeras. E então ela aparece. Alta, morena, até elegante, voz grossa:
Sônia Lima. Saca a Sônia Lima? Show de Calouros?
'Aêêê, Sííílviooo'?? Então. Ela mesma. Minha mãe, que até então, aos meus olhos infantis, era uma mãe completamente normal, teve um
piti. Quis ir lá falar com a mulher, e foi. Quis me levar: eu me escondi no banheiro. Chorei a minha vida! Não entendia que surto brega de tietagem havia assolado minha mãe, e porque cargas d'água ela queria ME incluir nele. Eu não gostava da Sônia Lima! Não só por ela, mas alguma coisa naquela perna repuxada do Wagner Montes me
apavorava (eu não lido bem com pernas repuxadas de celebridades) e não, eu não queria falar com ela. Passei quinze minutos chorando no banheiro e ouvindo a Sônia Lima
trovejar lá de fora: "tadinha, deixa ela, está com vergonha!" e minha mãe, sempre carinhosa: "deixe de ser besta!". Não saí. A Sônia Lima acabou indo cuidar da vida dela, e eu fui fungando prá escadinha do avião. Traumático.
Já em Miami, entramos numa loja e demos de cara com a Glória Pires. A essa altura, pensei que havia sido enganada e levada pra uma Disney cenográfica, no Projac. Baixou a groupie '
dexxxcontrolada' de novo em minha mãe, e dessa vez não tive como fugir: Glória Pires carregava um nenezinho - que muito bem podia ser um boneco - e que ela me deixou ver e fazer carinho. Foi simpático, porém estranho.
Anos depois, meu pai foi gerente de um bar e um dia apareceu por lá o Marcos Frota - aquele meio bobo, que tem um circo - e, no dia seguinte, lá estava meu pai, triunfante, com um autógrafo na mão,
pra mim. Um autógrafo que não pedi. De um cara que nunca gostei. Será possível, que até o meu pai, pessoa sempre sensata, perdia o fio do raciocínio lógico quando via uma pessoa famosa?
O fato é que a fama em si é uma coisa que eu não entendo muito bem. Ainda mais hoje, quando não é preciso fazer nada mais de
relevante prá ser famoso: basta ficar trancada três meses numa casa cheia de gente estranha. Ou mostrar a bunda. Ou ficar trancada três meses numa casa com um monte de gente estranha e, ao sair, mostrar a bunda. Sei que fama hoje em dia é mais atributo de gente esquisita que mostra a bunda do que qualquer outra coisa.
Eu entendo - e sinto -
admiração. Quem não ama o que é belo, bem escrito, bem encenado, bem composto e executado? Mas tietagem, essa gritaria, essa curiosidade mórbida pelo que fulano fez, com quem dormiu, onde compra cueca; isso, pra mim...não dá. Se você me estimula com a sua arte, eu quero saber o que faz de você alguém especial, o que te inspira, porque eu vejo um pouco de mim no que você compõe, escreve, canta, a forma como me convence ao encenar seus papéis: não, certamente, quem é seu dermatologista e quantas vezes semana passada você jogou futvôlei na praia.
Mas não funciona assim com todo mundo. A maior parte das pessoas gosta dos famosos porque
são famosos. Uma coisa sem sentido, uma retroalimentação dessa mesma fama estéril de que falei. Você não precisa
fazer, apenas
seja. Na verdade, não seja,
finja que é. E sorria prá foto!
Acho que na verdade, meus pais - se estiverem lendo, vão entender - foram meio que
contaminados ao encontrar com aquelas pessoas. Porque fama lembra glamour, que lembra dinheiro, que lembra sucesso, que algum idiota espalhou por aí que é o segredo da felicidade. Sucesso pessoal, pode ser.
Deve ser. Sucesso pra mostrar pros outros nada mais é do que alimentar o (próprio) ego e os devaneios de quem não tem muito no que pensar, por isso precisa se concentrar na vida alheia.
Eu não sou perfeita, longe disso. Claro que de vez em quando eu espio a revista de fofoca no salão, enquanto faço as unhas. Mas daí a sentar na cama e acompanhar a saga da gravidez da Ivete Sangalo...